segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O jogo do ultimato

"Neste jogo, um investigador dá ao sujeito A a possibilidade de fazer uma proposta de partilha de 100 euros entre este e o sujeito B. B pode aceitar ou recusar a proposta de A. Se aceitar, a partilha faz-se segundo a proposta de A. Se B recusar, os 100 euros não serão distribuídos. Pela regra da equidade, A deveria propor partes iguais. É a resposta maioritária em muitos contextos culturais. Contudo, nos contextos em que a concorrência é valorizada em relação à cooperação, a frequência das respostas ditadas pelo interesse, como "80 euros para mim, A, 20 euros para ele, B", é mais elevada". ( Raymond Boudon, O Relativismo).


Aqui parece-me que o grande problema é pensar que a regra da equidade tem valência. Por que teria? Fico a pensar que é para isso mesmo que serve a moral ou a ética. "Se não dividires equitativamente os 100 euros, não és justo". Mas por que haveria o sujeito A de ser justo? Se lhe é dada a oportunidade de ter a iniciativa da proposta e estabelecida a condição de os 100 euros não serem distribuídos por ninguém em caso de recusa do sujeito B, o A apercebe-se de que está em vantagem, isto é, existe uma grande razão para o B aceitar a sua proposta: é que se recusar não receberá nada! Então tira vantagem da situação.

É o que acontece entre empregador e empregado, em situação de excesso de mão de obra. Se o candidato ao emprego recusar a proposta do empregador, fica sem nada. Em situação contrária, de falta de mão de obra, os papéis invertem-se. Aí é o candidato ao emprego que fica na posição do sujeito A. A questão da equidade só se põe, se ambos se lembrarem que a situação se pode inverter. Hoje tu és o A e levas vantagem. Amanhã serei eu... A equidade é um contrato: não te prejudico hoje para que não me prejudiques amanhã. Mas esta hipótese é idealista. O que vale é a avaliação da situação. Só numa situação em que o valor da equidade se impõe, é que o sujeito A a levará em consideração.

Mas também poderemos ver a questão da equidade de outra maneira. O sujeito A deve esperar que o sujeito B pense em termos de equidade. Levando à letra esse princípio, o sujeito A deveria propor uma partilha equitativa dos 100 euros. Só que a questão que se põe é a de saber até que ponto é que o sujeito B aceitará uma proposta iníqua, desigual. É que a sua recusa levará a que os 100 euros não sejam atribuídos a ninguèm. Ele está sob chantagem: "Ou aceitas o que te proponho ou perdes tudo." Qual a sua capacidade de cedência?

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