quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Notícia de palavras

"O pecado original do pacote de Barack Obama" artigo publicado por Jorge Nascimento Rodrigues, no Expresso de 9 de fevereiro de 2009, é uma notícia de palavras. Estamos habituados a notícias de acontecimentos. Acontece qualquer coisa (o acontecimento jornalístico) e um jornalista dá conta desse acontecimento, produzindo uma notícia ou uma reportagem, se for caso disso. Mas e se o acontecimento consiste nas declarações de alguém? O jornalista irá dar conta não de algo que aconteceu, mas das palavras proferidas por esta ou aquela personagem pública. Foi o que aconteceu na peça referida.

Ao obter o texto da entrevista dada por Antal Fekete


(http://www.professorfekete.com/articles/AEFHowToStopTheDepression.pdf),

ficámos na posição privilegiada de poder submeter a exame quer o texto-fonte quer o texto-final, quer a entrevista quer a notícia de palavras que dela dá conta.

Numa notícia de palavras segue-se uma técnica relativamente simples.
O jornalista pega numa das frases proferidas pelo orador e inicia com ela a notícia, tal como vemos na peça referida. Virtualmente, a frase pode ser qualquer uma. O simples destaque já lhe dá importância. Claro que a sensibilidade e a inteligência do jornalista também podem ter um papel a desempenhar. Sob o ponto de vista técnico isso é irrelevante. Se a frase escolhida é boa, se é a melhor, se é a que melhor dá conta do pensamento do orador, se é aquela que mais interessará ao público, isso é outra questão e depende mais das intenções do jornalista do que de outro motivo qualquer.

Para a continuação da notícia, vai-se intercalando o contexto com partes do discurso, recortadas e baralhadas pelo jornalista segundo a sua indiscrição e depois basta pôr um ponto final. Tudo sem esquecer o interesse jornalístico. A fidelidade ao texto-fonte é o que menos interessa. Ou dito de outro modo, está quase garantida! Afinal a peça não passa de um patchwork de citações.


O texto-fonte é desmembrado, reordenado e reduzido às frases escolhidas pelo jornalista. Não se trata de um trabalho escolar (embora me pareça que essa técnica possa e deva ser usada em contexto escolar com muito bom proveito e constitua uma excelente situação de aprendizagem). É um trabalho jornalístico e, como tal, não está necessariamente sujeito ao dever de objectividade. Normalmente, o leitor nunca disporá do texto-fonte para exercer o seu espírito crítico e o orador reduz-se à situação caricata de apenas se poder queixar de que as suas palavras foram tiradas do contexto, sem poder dizer que não disse o que disse. Quanto muito dirá que não quis dizer o que lhe fizeram dizer.

Isto não significa que o trabalho do jornalista fique isento de críticas. Sobrevoando o texto da entrevista, senti necessidade de a ler mais atentamente. A notícia de palavras não me chegou.

Ciente de todas estas características da notícia de palavras, resta-me prometer que procederei à leitura da entrevista dada por Antal Fekete: "How to stop the depression".

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