sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Editorial do DN de 20 de fevereiro de 2009

O fim da era da cobiça descontrolada
As repetições são mais do que coincidências: depois da fraude Madoff, a vigarice de Stanford. Homens de alto perfil social, prestigiados por carreiras profissionais, íntimos de organizações não lucrativas, mecenas sociais ou dos desportos. Nestas fraudes, como nas de outras grandes empresas que se aventuraram pelo território inexplorado das finanças virtuais, descobertos os esquemas fraudulentos, repete-se a mesma perplexidade. Como foi possível que tudo isto se desenvolvesse até atingir a dimensão de milhares de milhões de dólares, sem que ninguém desse por nada? A resposta óbvia é que, em vários casos, houve quem denunciasse o que não tinha explicação dentro das leis e houve outros, pagos para supervisionar estes negócios, que, mesmo quando avisados, decidiram nada fazer. A corrupção está, pela certa, entranhada, em muitas instituições até agora intocáveis nos EUA, como a SEC (a equivalente à nossa CMVM). Podemos especular sobre a dimensão do que ainda se há- -de descobrir. Mas já não é lícito duvidar de que estamos a chegar ao fim de uma era, na qual a prossecução do interesse próprio apoiado na propriedade privada galgou todos os patamares da decência e responsabilidade social, transformando a actividade financeira numa versão actualizada da mais encarniçada lei da selva. Perante tudo isto, será sequer imaginável que o processo de reforma, assumido pelo G20, não ponha fim a este laxismo corrupto? E não estabeleça regras prudentes e universais que reprimam a cobiça sem freio?

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